As Contradições, Falar e Fazer



"Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus."
(Mt 5.9)
Na forma de interação social, as relações humanas baseiam-se na confiança entre as pessoas ou grupos sociais: família, escola, igreja, comércio, negócios, política, governo, etc. Tudo baseia-se em confiança. Enquanto os meios de comunicação são os panos de fundo nessa teia relacional, moldando as ideias e opiniões de grupos cada vez maiores da sociedade. Entre eles, a linguagem, a escrita, o telefone, o rádio, a televisão e a internet. Cada grupo com seus princípios.
Através dos tempos, e fruto da vivência humana, algumas leis foram se popularizando dando lugar aos ditados populares; a lei da vingança é uma das mais antigas, “Olho por olho, dente por dente”. Os artifícios dos ditados populares e/ou frases de efeito, se mal utilizados, causam sérios danos às relações humanas. Exemplo de uma decisão baseada na frase: Faça o que eu digo, e não faça o que eu faço.
Invariavelmente os pensamentos dão vazão as emoções e vontades, intrínsecas a alma humana, e suas consequências vão desde a escala do inofensivo até a mais danosa. As decisões tomadas com base em contradições são a causa dos diversos males, tanto para si mesmo quanto para o próximo. Pergunta-se: Quem já foi objeto desse tipo de decisão, alguma perversidade? O perverso ficou satisfeito, seus frutos? Não responda.
Alguns exemplos das contradições, e suas fontes de aprisionamento da alma, no transcurso da História, são listados a seguir.
Fala que liberta, mas faz escravizar - Independência do Brasil (1822). Ao longo do tempo as contradições do pacto colonial foram se acentuando, não era possível continuar explorando o Brasil colônia sem a contrapartida do desenvolvimento. Mas, com o desenvolvimento a colônia de Portugal criaria as condições necessárias para se tornar um país independente. Nítida contradição. Então, a metrópole portuguesa intensificou as medidas de controle, resultando nas várias rebeliões do período colonial: Conjuração Mineira (1789), Conjuração Baiana (1798), Revolução Pernambucana (1817), até o rompimento definitivo com Portugal. O fim da dominação colonial; Proclamação da Independência Política do Brasil (1822).
Fala de paz, mas faz a guerra - O bombardeio a base americana de Pearl Harbor, (1941). A Marinha Imperial Japonesa desferiu um ataque de surpresa a base americana de Pearl Harbor, matando milhares de pessoas. O bombardeio chocou o mundo, marcando a entrada dos Estados Unidos da América na II Guerra Mundial.
Fala de amor, mas faz o ódio - O Apartheid (1948-1994). Conjunto de leis que segregavam os brancos dos negros na África do Sul, segundo um regime de base ideológica fascista. Entretanto, a crescente oposição, interna e externa, forcou o fim do regime com a realização de eleições multirraciais e democráticas (1994).
Poder-se-ia citar outras contradições - fontes de aprisionamento da alma. Entretanto, volta-se a discussão para a exigência do novo paradigma: Coerência natural. Como vírus que se propaga e se fortalece através de mutações, os provérbios populares e/ou frases de efeito perduram no tempo, servindo à tomada de decisões que por vezes acarretam consequências danosas as relações sociais. O mundo cibernético, a sociedade da informação, tem os seus provérbios populares, mutações dos ditados antigos, tais como: “Quem com vírus fere com vírus será ferido.” Mutação do seguinte ditado popular: “Quem com ferro fere com ferro será ferido”, baseado na lei da semeadura. Entretanto, segundo o conjunto de mudanças que contemplam o ser humano como elemento central, o novo paradigma exige do indivíduo pensar com amplitude, percebendo as interações e conseguindo dar significado à informação. Pois bem, cada vez mais se exige a coerência das atitudes das pessoas.
O perfil é a coerência natural. Isso é ponto pacífico.
Entretanto, este processo de mudanças não é uma tarefa fácil, principalmente, levando-se em consideração as contradições do ser humano, suas emoções e vontades. Deixa-se o seguinte caminho para reflexão do leitor: Os ensinos de Jesus – O Sermão do Monte. (Mt 5,6,7)
“Ouvistes que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao homem mau; mas a qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar mil passos,
vai com ele dois mil. Dá a quem te pedir, e não voltes as costas ao que quiser que lhe emprestes.
(Mt 5.38-42)
O Sermão do Monte – As bem-aventuranças - o caminho da libertação daqueles que porventura tenham sido objeto das contradições da vida, e tentaram aprisionar sua alma, através do incentivo à vingança. A orientação é renunciar a esses sentimentos. Abrir mão da vingança, pois, a coerência das suas atitudes é um indicador de confiança em Deus, caso contrário, seu falar seria "nhenhenhém".
A propósito, peço desculpas pelo pragmatismo, mas não consigo desassociar a coerência da confiança em Deus, andam de mãos dadas: Liberta.
Vida que segue.
Somos justiça de Deus, em Cristo.
Manoel Lúcio da Silva Neto é mestre em Engenharia da Produção (Mídia e Conhecimento), e autor do livro, Cristologia ao seu Alcance.










